SEMEAR O BEM
Pretendíamos discorrer sobre o fenômeno das Redes Sociais, alertados pela afirmativa do jornalista e professor da ECA-USP, Eugênio Bucci, de que “elas não são neutras; há sabotagens insidiosas e menos visíveis por trás dos boatos aloprados. Elas estão a serviço do poder”. Decidimos, entretanto, recorrer aos leitores para que participem e nos ajudem a decifrar e entender melhor o tema, para posterior publicação.
Como é dezembro, mês do Natal, da esperança e da solidariedade, melhor foi compartilharmos a reportagem de Helaine Martins, da última edição “Banca do Bem”, distribuída pela Droga Raia, cujo título é “Faça florescer”. Escreve a autora: Pense em uma escolha que você fez recentemente. Pode ser o que comeu no almoço, o site que acessou para se informar sobre determinado assunto, a programação para o final de semana… O que o levou a essa opção? Talvez você esteja convicto de que agiu totalmente por razões próprias. Até porque ser influenciado pelos outros é um comportamento frequentemente malvisto na nossa sociedade – quem gosta de ser chamado de ‘Maria vai com as outras’? Porém, o fato é que todo o nosso comportamento depende de quem nos cerca. Em cada escolha que fazemos, há o peso de quem nos cerca. Em cada escolha que fazemos, há o peso do que vimos, ouvimos e sentimos em nossas interações sociais. Nosso sistema psíquico é relacional. Desde o momento em que nascemos, nos influenciamos mutuamente, ainda que não percebamos de forma clara, afirma o professor do Departamento de Psicologia Social da PUC-SP, Hélio Roberto Deliberador. É como um jogo de futebol: toda decisão tomada por um jogador depende dos demais. Mesmo quando um craque faz uma jogada individual, ele define sua trajetória, sua velocidade e a forma como toca na bola com base na posição e na postura de companheiros e adversários. Em outro contexto, ele agiria diferente. Por isso que nenhuma partida é igual à outra.
São basicamente dois impulsos que balanceamos ao tomar uma decisão: o da imitação e o da diferenciação. Copiar um comportamento que deu certo para outra pessoa é uma estratégia que nossa espécie vem repetindo desde que surgiu. Afinal, costuma ser uma saída fácil e eficiente para a sobrevivência. (Imagine quantos ancestrais se salvaram ao imitar quem decidiu fugir ao ver um animal feroz.) Mas, se apenas copiássemos uns aos outros, ainda viveríamos como os primeiros humanos. Temos o poder da inovação, da criatividade. E isso também é uma reação social: só tendo noção do que é padrão dá para fazer diferente. (Um dia, em vez de fugir, alguém decidiu enfrentar a fera de maneira inteligente, tornando-se o primeiro caçador.) Entre a Idade da Pedra e os dias atuais, esse exercício de réplica e originalidade só se intensificou. É o que defendo o professor de marketing da Unidade de Pennsylvania, Jonah Berger, autor do livro O Poder da Influência – As Forças Invisíveis que Moldam nosso Comportamento. Depois da popularização da internet, principalmente, nosso contato com outras pessoas se multiplicam de maneira inédita. Hoje, mais do que nunca, estamos a todo o instante reagindo à maneira como os demais se comportam. E isso é bom ou ruim? Tem um lado perigoso, porque, nessa enxurrada de referências, corremos o risco de nos deixar influenciar de forma acrítica. Se não refletimos sobre o comportamento e as opiniões dos outros, analisando se são positivos ou não e buscando informação para construir nosso ponto de vista, podemos cair em armadilhas. Mas, há também um lado maravilhoso: quanto mais contato com as histórias de outras pessoas, mais chances de conhecer ótimos exemplos para seguir. E isso pode criar uma reação em cadeia, contagiando grupos inteiros com motivação para fazer algo bom. São relatos desse tipo que você confere no dia a dia. Quem sabe eles não inspirem você a também espalhar sementes do bem?
Referências:
BUCCI, Eugênio. As redes sociais a serviço do poder. Época, São Paulo-SP, ed. 1011, p. 18, nov. 2017.
MARTINS, Helaine. Faça florescer. Banca do Bem, Mol Editora, São Paulo-SP, ed. 58, p. 26 e 27, nov./dez, 2017.
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Organizado por Ademar Arcângelo Cirimbelli, Assessor da Presidência, dezembro/2017.